Melhor Vizualisado pelo Mozilla Firefox

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O Mundo de Joelho...

WASHINGTON - Como sempre acontece, o mercado finalmente colocou os governos de joelhos.

Numa ação coordenada e liderados pelo Fed (o banco central dos EUA), vários países cortaram as taxas básicas de juro e anunciaram planos bilionários para resgatar bancos e investidores. A tentativa é de dar liquidez ao mercado.

Nos últimos dias, apesar de todo o esforço norte-americano de cuidar de seu quintal com trilhões de dólares sendo derramados no mercado, a crise tomou proporções dantescas. Se não for contida, é natural que vaze com cada vez mais força para a economia real, produtiva, com graves conseqüências sobre empregos, salários e investimentos.

Seguindo os passos dos EUA, o Reino Unido anunciou um plano de resgate de 50 bilhões de libras. Já o Fed norte-americano começará a comprar títulos diretamente de empresas não-financeiras a fim de fornecer capital de giro para suas operações. Em 95 anos de existência, o banco central norte-americano nunca fez isso. Motivo: se a empresa quebrar, o Fed não recebe o dinheiro de volta.

Para tempos extraordinários, medidas extraordinárias. Essa parece ser a lógica, de resto imposta pelo mercado. Na Europa, a ficha demorou a cair. E a ação coordenada e profunda de hoje é um reconhecimento disso.

Em entrevista coletiva no FMI nesta manhã, o francês Olivier Blanchard, economista-chefe do Fundo, foi confrontado com a seguinte pergunta: "De 0 a 10, quais são as chances de o mundo mergulhar em uma depressão?"

Blanchard: "Acredito sinceramente que se a resposta à crise for coordenada, e é isso o que estamos vendo agora, a chance é muito pequena". Mas acrescentou: "O problema é que os países agiram com uma certa improvisação até aqui. A Europa demorou demais. O senso de urgência foi dado pelo mercado".

Neste momento, as maiores economias do mundo lançaram as três bóias possíveis para tentar reduzir os impactos da crise sobre a economia real: forneceram liquidez ao sistema, começam a comprar os ativos "tóxicos" dos bancos e lançam planos de recapitalização dessas instituições.

Nesse mar revolto, o corte de juros eqüivale também a tentar baixar o nível da água, reduzindo o número de afogamentos entre os que não puderem ser alcançados por essas três bóias.

E o Brasil? Para o FMI, o país será afetado, mas continuará acima da linha d'água. O Fundo prevê um crescimento de 5,2% para o Brasil neste ano e de 3,5% no próximo.

Na entrevista, perguntei os motivos e se a forte valorização do dólar não vai melar essas previsões, trazendo inflação para dentro do país via importações. E obrigando o nosso BC a ir na contramão do resto do mundo, subindo os juros.

Charles Collyns, economista do Fundo e especialista em Brasil, deu uma resposta vaga. Acha possível que o relativo desaquecimento da economia brasileira reduza a necessidade de tantas importações (que vinham crescendo a taxas muito altas), diminuindo o risco de inflação.

Mas não respondeu o essencial: por que diabos o dólar não para de subir?

O que sabemos: depois de um longo período, as contas externas do Brasil voltaram ao vermelho. Estão negativas em dólar e precisarão de financiamento, seja em dinheiro de curto prazo de investidores ou em capitais produtivos. Esse é o tipo da coisa que desapareceu do mercado, daí as intervenções de trilhões dos bancos centrais.

Embora o Brasil ainda tenha mais de US$ 200 bilhões em reservas, nós infelizmente não temos a máquina de fazer dólares do Fed.

seja o primeiro a comentar!

Comente - Seu comentário é nosso incentivo.

BlogBlogs.Com.Br